segunda-feira, 2 de março de 2009

Necessidade

Tudo o que há, há por necessidade. A necessidade poderá ser interpretada como de ordem natural, histórica ou construída. Poder-se-á afirmar que uma coisa é necessariamente necessária, ou sua necessidade será não muito intensa, superficial, facultativa a ponto de se dizer desnecessária. Ora, uma coisa facultativa não é e nem pode ser uma coisa desnecessária. Se algo há, há por necessidade, mesmo que esta coisa não seja necessária para mim. Porém, foi necessária para outrem! A facultatividade de uma coisa para mim, não me outorga o direito de julgá-la desnecessária, mas apenas facultativa, pois amanhã, em contexto diferente, a coisa poderá ser necessária. A desnecessidade não existe para algo que tenha possibilidade de vir-a-ser, a desnecessariedade só há para algo que não pode vir a ser, portanto, este algo nem poderá ser considerado algo. Se há algo, algo será sempre necessário.
Creio, assim, que tudo, sendo necessário porque o fiz necessário ou porque sua necessidade foi imposta a mim, deve ser amado, senão, no mínimo, respeitado. Para não ficar no mundo das idéias e fazer-me entendido, darei um exemplo bem próximo: quando você sai de casa para ir à faculdade, ao trabalho ou a qualquer lugar e, durante o percurso, você encontra um impedimento, a exemplo de um congestionamento no trânsito, sua reação imediata é de chateação, pois algo te impede de seguir o percurso do modo como você planejou. Mas pense que algo está acontecendo à sua frente e que impede seu carro ou ônibus transitar. O que acontece, impedindo os carros transitarem livremente, é, certamente, o que você menos deseja, por isso lhe causa chateações, mas perceba que este algo é necessário para a pessoa que está realizando o ato que impede os carros de transitarem. O que não é necessário para você é necessário para outrem!Portanto, sendo necessário, mesmo que não seja para mim, deve ser e não tem como não ser. O ato não pode ser desfeito, consertado, transformado. O necessário não vem a ser, já é, está acontecendo, é o ato sendo. Desse modo, o necessário não é estar na ordem da possibilidade, do planejamento, da hipótese, o necessário é na medida do sendo. Se um arquiteto desenha uma planta projetando um imóvel, o cimento e a areia não são ainda necessários, só o serão quando os operários e máquinas chegarem ao local onde deverá iniciar a construção; é no ato de construir que tais elementos se farão necessários, antes eles são apenas hipóteses ou possibilidades.

18 de abril de 2008.
Josemar, algo necessário!

O ancião, as crianças e a felicidade...

Num certo dia, um grupo de crianças, que tendo ouvido falar da felicidade, procurou o ancião da aldeia, que tinha 100 anos, para perguntar-lhe qual era o segredo para ser feliz. O ancão, reunindo-as no jardim da praça, e acalmando-as, começou a contar-lhe uma estória:


Uma vez, um jovem de 15 anos, decidiu que o projeto de sua vida era de ser feliz. E ele disse a seus pais e seus amigos:
_ Quando adulto, eu quero ser um homem feliz!
O jovem cresceu, chegando aos 25 anos, decidiu:
_ Tenho que terminar minha faculdade, depois começar a trabalhar e ter filhos, assim serei feliz!
Aos 35 anos, aquele que era jovem disse:
_ Trabalharei intensamente para educar meus filhos, e quando eles estiverem criados eu serei um homem realizado e feliz!
Com 45 anos, ele ainda diz que terá que terminar de trabalhar, pois só depois de aposentado poderá descansar e ser feliz.
Com 60 anos, apaixonado pelos netos, diz que só quando os vê crescidos será feliz.
Chegando aos 80 anos, ele pede a Deus vida e saúde pois, sendo doente por causa da idade, ainda não é feliz, quer ver os filhos de seus netos...
Aí, ele completa 100 anos, e conclui:
_ Passei toda minha vida na esperança de que no futuro eu seria um homem feliz. Hoje, quando chega a morte em minha porta, sem perguntar se sou feliz, compreendo que perdi muito tempo pensando no futuro que é sempre o Agora.

Assim, o ancião ensinou às crianças que para ser feliz será preciso viver e amar intensamente como se não houvesse o amanhã, pois a esperança pelo futuro ‘pode ser’ a maior traição que um homem pode fazer a si mesmo.
08 de fevereiro de 2004,
Josemar - um desejo de felicidade!

domingo, 1 de março de 2009

Sal, Pimenta e Mel

Não sabendo usar bons versos para poder começar, começo falando de um não-saber. Eh! Um não-saber sobre o amor, mesmo por que o amor é sempre mal sabido, não se deixa saber, é apenas para sentir...
Contemplo teu modo de ser, teu modo de se apresentar aos meus olhos que desejam ver tudo, que desejam ver até o não-poder ver e saber.
Apenas pelo ter sentido, ponho-me a pensar, a falar, a degustar a imagem da tua presença; sentir a negritude de teu cabelo quase ondulado, estando sempre velado pelo artifício da sedução, lembrando-me as ondas naufragantes de muitos sonhos... Sentir teus olhos procurando repouso entre meu corpo desprovido do leito por ti desejado.
Tua boca! Não há palavras para falar de tua boca, fonte das palavras livres e seguras, objeto de todo o meu desejo, da saciedade, do encanto e da força; teu beijo, único e grande, tão grande que se transborda em minha memória que sempre busca insanas formas... Prefiro esquecer teu beijo a condenar-me à loucura das enganadoras formas! Teus dentes informando tua boca num movimento convidativo a todo desejo...

Teu corpo inteiro é grito na boca de meu desejo; meu desejo morto em esperanças; meu desejo que, pela tua decisão livre, está condenado a ser saciado pela falta, pela ausência tua, pelo eterno não-saber do gosto do sal com pimenta e mel; o gosto de um instante eterno do presente, de um presente que lembra tudo de você...
Você: tem o gosto do nunca provado; imagem de um futuro que, por tua imperativa liberdade de ser, já é passado; um passado sem cor, sem forma, sem sentido, sem você inteiro; um passado que só é desejo ressequido e ferido pelo amado livre... Amado, que por ser amado, torna-se livre pelo amor que lhe transpassa sem dor ou alegria, ferindo-se na tua liberdade...
Meu amor e tua liberdade sufocaram a virilidade de meu desejo, afirmando a dolorosa e real distância... Uma distância que me plantou num lugar qualquer, onde tua liberdade e meu desejo se desencontraram... Assim como se desencontraram a luz e a sombra, que não sendo opostas, buscam-se como que misturadas pelo caminho, onde a penumbra ofusca tudo e não mais sabemos sobre luz ou sombra.
Você, meu Bem, nasceu apenas para duas possibilidades: não ser conhecido ou ser amado! Eu, não podendo te amar com viril desejo, preferiria não te conhecer; mas se ti conheço, ama-lo-ei por quanto o amor em mim houver!
19 de setembro de 2006,
Josemar, quem ama não esquece!