domingo, 18 de abril de 2010

MARÇO

É muito difícil falar de março. Procrastinei ao máximo essa escrita, porém março se impôs como um tirano em sua docilidade. Já repararam como março é cheio de vida? Não sei bem se é março ou o outono, eu só sei que essa combinação é frondosa e enche nossos olhos de sentidos. Em tudo que olhamos queremos encontrar março, aliás, em tudo que olhamos março se impõe. As crianças e jovens retornam aos colégios, eis março ali. O sol... que belo o brilho do sol, presentes nuvens, uma chuva que lava a alma, e o cheiro das plantas como que nos convida a uma alegria que nasce sem causa humana. Acho que março congrega. Acho que março nos deixa bem sozinhos. As manhãs são tão delicadas, e à tarde só é possível ver o sol nas coisas. É um tempo intempestivo. É um tempo que da pra sentir a existência, assim como os trovões que parecem requerer da alma um peso que só elas têm. Tudo é tão visível em março, até o outono aparece. São dez horas da manhã e os trovões já gritam à distância que março é. O trovão é um “eu sou” de março. Como as pessoas são visíveis, não consigo deixar de ver cada uma delas. O trovão é de uma impetuosidade, é como se ele me firmasse no chão. E os pássaros parecem não sentir medo dele. E as borboletas? São poucas, mas voam numa inocência invejável. Não sei, mas parece que a leveza delas pesa na imensidão do ar, pois o vento parece não levá-las como leva as folhas secas e sem vida. Mas março sofre por não poder tirar de seu circulo o peso amargo de algumas almas cegas e insensíveis. Não enxergar março é diminuir um mês de existência, é perda de essencialidade. E as mocinhas começam a provar que março está presente, pois começam a passar aqui como pequenas normalistas. Assim os rapazes, todos vindo do colégio. É março se “marcilizando”. Cada março parece último, isso se dá talvez pela unicidade de março. Tudo verde e de uma esperança gigantesca. Emergem da terra os gafanhotos, as tanajuras, as mariposas... todos vivem. As noites de março são sem insônia, por isso achamos que elas são tão curtas, assim que dormimos acordamos. Parece que março é sereno, até os sapos são em março. Os sons são tão audíveis, e até o silêncio se escuta. As árvores parecem grandes, enfim, tudo é demasiadamente em março. Não – lembro-me agora que há faltas insubstituíveis. Março não foge à regra da existência. Não quero falar mais, quero deixar março ser o que é. As palavras podem esvaziar a experiência. É preciso ser sereno com março, deixá-lo ser esse apenas “eu sou”...