domingo, 14 de dezembro de 2008

O ritual demandista

Não é novidade constatarmos que mulheres gostam de bolsas. Melhor, que elas não conseguem viver sem uma, duas, três, quatro etc. bolsas. Hoje mesmo, sair com uma amiga que não sai de casa sem a sua bolsa. E às vezes, confesso, incomoda-me, pois ela a leva até ao barzinho da esquina. Mas hoje, curiosamente, foi diferente, e por quê? Porque fiz o esforço de observar o uso que ela faria da bolsa. Observei? Sim, claro! Resultado: ela apenas tocou a bolsa, e a tocou porque ela – a bolsa – a incomodava em alguns momentos. Aí me perguntei: por que uma pessoa carrega algo que lhe incomoda? Bem, esta pergunta é feita por mim, homem. Certamente que minha amiga, usuária da bolsa, acharia minha pergunta quase que idiota. Mas acho que ela entenderia... ou não. Mas é fato, ela não usou a bolsa pra nada. Mas o que as mulheres levam na bolsa? Ah, com certeza não temos dúvida que não muito raro encontraremos dinheiro, o confortável absorvente, pente, maquiagem, fio-dental (não a calcinha, mas aquele próprio aos dentes!), celular, documentos etc. etc. O cômico é que algumas levam absorvente até quando já menstruaram na semana passada, talvez seja para socorrer alguma amiga que, certamente, tem bolsa e leva absorvente dentro da mesma. Mas, enfim, a bolsa é essencial na vida delas. E é bom que elas tenham algo essencial que lhes dê a sensação de presença. E minha fala não é crítica a esse fato, mas, apenas, descritiva e, talvez, analítica. É que cheguei à conclusão – minha conclusão – que o assunto é mesmo da presença, ou melhor, da falta. O poeta Goethe dizia que a “presença é uma deusa poderosa” – também a ausência! A bolsa – como o copo, a jarra, o vaso – é um recipiente pronto a ser preenchido. Seu sentido e sua função são ser e está vazia para ser toda cheia de algo que lhe seja, essencialmente, estranho à sua natureza. Assim, ainda concluo que a bolsa – como minha amiga, espontaneamente, sugere – atende a certa demanda. Aí tive a curiosidade de saber o que nosso amigo dicionário entende por bolsa e por demanda.
Diz ele a respeito da bolsa:

(s. f.) saquinho onde se traz o dinheiro; saquinha fechada por meio de cordões ou fecho; dinheiro para ocorrer às despesas correntes; conjunto de túnicas concêntricas que envolvem os testículos; saco onde estão instalados certos órgãos, ou cheio de líquidos orgânicos; (no pl. ) alforjes. – de estudo: subsídio ou pensão concedida pelo Estado, e outras instituições, a estudantes e investigadores para prosseguimento de estudos ou financiamento de projectos científicos, no estrangeiro ou no país de origem; - de valores: mercado público organizado segundo regras precisas, onde se reúnem negociantes e corretores para a negociação de títulos de crédito, acções, fundos públicos, etc.; - -do-fel: vesícula biliar; - -de-pastor: erva brassicácea.

E sobre demandar:
(sf) ação de demandar; procura; ação judicial; processo; litígio; (econ.) procura; (psican.) pedido ou exigência mais ou menos consciente expresso pelo paciente, situado entre o desejo e a necessidade.

E sobre aquilo ou aquele que demanda, ele diz:


demandante: (adj2g) que ou aquele que demanda; demandista.
E são variados os tamanhos das bolsas: bolsona, bolsa e boceta. As mais usadas são as bolsonas e as bolsas. Elas, de um modo geral, não gostam de bocetas, o que não entendo. Só as senhoras mais velhas gostam das bocetas para colocar moedas. Em feiras livres são bastante comuns, as bocetas. Geralmente, as bocetas estão entupidas de moedas. As bocetas, mais do que as bolsas e bolsonas, têm uma relação forte com o capitalismo. Em bocetas só se encontra dinheiro. É que não dá nem pra colocar absorvente em bocetas, você acredita?! Só dinheiro! É que na bolsona ou na bolsa é ruim ter moedas, elas são miúdas demais. Nas bocetas não, as moedas são bem visíveis. Ás vezes é possível ver mulheres tirando a boceta de dentro da bolsa. Mas é isso, o que não se pode levar em uma se leva na outra, mesmo que simbolicamente. Dentro de uma boceta não cabe tudo que se cabe numa bolsona, então, se ela não pode botar na boceta, bota na bolsa. A demanda de uma boceta pode até ser grande, mas é a bolsa ou bolsona que atende as demandas das bocetas das demandantes. Pois é... o vazio da bolsa não atende apenas às demandas aparentes das bocetas das demandantes, mas antes atende, simbolicamente, a outras tantas demandas que nem elas sabem – apesar de sentirem.
O que tenho percebido também é que as mulheres de um modo geral têm várias bolsas e bolsonas, agora, boceta só tem uma. Nunca percebi as mulheres tirando várias bocetas de dentro das bolsas, mas apenas uma. Minha mãe, por exemplo, usa de duas a três bolsas ao mesmo tempo, mas apenas uma boceta. Por que ela usa de duas a três bolsas? É que ela tem uma demanda que não dá para atender aqui nesse pequeno texto, nem em sua boceta. Documentos, livros e computadores não cabem em bocetas, mas exigem várias bolsas e simbolizam uma família inteira. Ah, você não entendeu o “simbolicamente”? É que nas bocetas não dá pra colocar todos os objetos que satisfariam as frustrações e recalques das mulheres demandantes. Bem, não quero me delongar nesse assunto, mesmo porque sou homem e a cultura não me permite usar bolsas, e a natureza também não permite que homens entendam delas. Mas também não acredite que por isso nós, homens, não temos demandas. Ah, e como temos! É que se as mulheres não são mulheres quando sem bolsas, os homens não são homens sem carro – ou sem moto, no mínimo sem bicicleta, sem esquecer-se do pobre alazão. E, enquanto são variados os modelos das bolsonas, bolsas e bocetas, assim também os dos carros. E, agora, para meu tormento, inventaram que carro bom é aquele que tem som. Pois bem, enquanto a mulher faz todo um ritual sensual e silencioso com suas bolsonas, bolsas ou bocetas para chamar a atenção dos seus desejáveis homens, estes, num ritual todo barulhento e exibicionista, ligam em alto volume o som de seus carros, tentando atender, simbolicamente, às suas demandas, e querendo chamar a atenção das mulheres que usam bolsonas, bolsas e bocetas silenciosas.
Josemar, Um não bolsista, em 13/12/08 às 19:50h

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Um nada de poder

Acho que uma das coisas mais inquietantes em nós é a ansiedade. Ela nunca está parada. Por mais que ela perdure em nossa alma instintiva, sua presença é constante e perturbadora. Deve haver vários tipos de ansiedade, mas quero falar apenas de duas: aquela de quando se sabe as causas, e aquela outra que julgo bem pior, de causas desconhecidas. Pois bem, sofro desta última. Certamente que algum respeitável psicanalista diria que sempre há causas para ansiedades. E é justamente aí o implícito: na ansiedade o que há é precisamente um não-há. Ansiedade é presença de uma ausência aterradora. Mas quando digo que sofro de ansiedade de causas desconhecidas não é por desconhecer suas causas, mas porque elas são extensas e não cabem na finitude das sempre pequenas palavras. Recorro sempre à gramática para expor a mim mesmo as causas dessa ansiedade, porém, só as encontro na pele, atravessadas como espinhos que encontram em sua fineza a facilidade de atravessar. Espinho de verdade de pequeno traz a ponta. Espinhos invisíveis, pele ressentida, alma ansiosa. Nada pra fazer. Nada a se fazer. E é esse nada que perturba. Aí penso que toda ansiedade é a consciência da presença do nada em nós, do vazio e da falta. Talvez, o que mais incomode na ansiedade não seja esse nada a se fazer, mas essa consciência de que, não se fazendo nada, nada se é. Pois ser, é sempre um sendo alguma coisa. Ser é fazer-se sendo. Nesse nada, eu estou pleno de possibilidade, mas de impossibilidades também. Então, O nada é poder. E a possibilidade é um poder ser ou poder de nada ser. Poder para qualquer coisa ou para qualquer nada.
Bem, eu não vou continuar escrevendo porque preciso deleitar-me nesse poder de nada da ansiedade.


08/11 às 00:54h - Um momento ansioso

sábado, 1 de novembro de 2008

PARÁFRASE

Hoje o dia foi cheio de sensibilidade, na verdade, um dia muito sensível. E a noite foi surpreendente e encantadora, mas também dramática. A esperança pousou inesperada e assustadoramente na inocência. Ela veio do inesperado e assustou a inocência. Assim, percebi que nem sempre a esperança é bem-vinda. É que, paradoxalmente, a esperança pode desesperar. O inusitado é que, hoje, a esperança assustou e desesperou a inocência. Esta, assustada e desesperada, gritava num pedido de socorro, demonstrando desespero e susto. Eh, a esperança assusta, às vezes. Desesperada e assustada, a inocência era acolhida em vários braços não inocentes. E todos, na não inocência, buscava auxílios nas palavras para acalentar a inocência tão perturbada pela esperança. Uns abraçavam, outros falavam, outros riram da inocência, outros sentiam enorme compaixão. A inocência estava sendo vítima da compaixão, do zelo, do acalento, das palavras, mas, sobretudo, a inocência era vítima da esperança. A esperança desespera. Naquele instante, esperança e inocência se opunha, em nada se aproximavam a não ser no desespero. Sim, o desespero une esperança e inocência. Nesse rebuliço de ruptura e unidade estranha, foge desesperada também a esperança. Mas também desesperada fica a inocência na esperança de algo lhe apaziguar. Inocência desesperada na espera de... E mesmo no desespero, a inocência reclama da presença fugidia da esperança que, na presença assustadora logo se fez ausente com o presente desespero. No desespero assustado, olha a inocência a escura noite por onde a esperança não mais era vista, mas temida. Sim, mais uma vez sim para a distância segura por onde a esperança se refugiara. Esperança temida e indesejada. Esperança não esperada. A esperança da inocência agora era de que a esperança não mais voltasse. A inocência espera que a esperança não volte, pois ela desespera. A esperança perdida em vôo na noite quase escura, sob luz tênue da velha lua nova, ainda permanecia presente no grito desesperado da inocência que, com olhar salgado, chorava olhando na busca esperançosa pela esperança também desesperada e agora escurecida no espaço enegrecido pela noite calma. Noite calma, velha lua nova, esperança e inocência. Esse conjunto estranho que ao mesmo tempo une, estremece, separa e reúne. A noite avança, a inocência chora, o desespero se dissipa, a esperança voa e repousa além do olhar desesperado da inocência. Agora, por fim, não há mais choro nem desespero. Agora, a inocência tem medo da esperança voltar, mas tem esperança de não mais ter medo da presença da esperança. Um dia de esperança, uma noite de desespero.


Josemar, um pseudônimo de inocência e esperança, 31/10/2008.

Morte Santa, vida cruel!

Prezadíssimo Amigo,
Escrevo-lhe não apenas pela exigência de comunhão que nossa amizade nos impõe, mas, sobretudo, pela referência que você é no meu pensamento quando este se direciona à vida, problematizando-a. E hoje, você, por diversas vezes, foi reclamado de presença nas circunstâncias que vivi e pelos pensamentos que fluíram em mim. Hoje, fui acordado por um telefonema de um amigo, onde ele me noticiava a morte de seu pai, um infarto pré-sabido, porém, indesejado e inesperado. Sr. José, depois de cuidados com o próprio corpo, ao descansar da refeição noturna, foi surpreendido pela morte quando sentado numa cadeira no quintal de sua casa quando amenizava o calor nesse início de primavera. Surpreendido ele – e nós todos!
Pois bem! Mesmo em meio a desconfortos, clamores, dores, angústias e tantos outros perturbadores afetos, peguei-me em vários momentos refletindo sobre a vida que nos circunda e se impõe com suas surpresas. Até que eu poderia elencar os inúmeros fatos pelos quais se ocupara meu pensar, mas seria enfadonho ou desesperador. Como não sei de como seus afetos estarão ao ler essa carta, prefiro que você, na riqueza de sua potencialidade imagética, possa criar, forjar, hipotetizar esses fatos. E sei que você é capaz de fazê-lo.
Mas para situá-lo nas minhas interpretações, e supondo poder assim fazer, exporarei um fato que me fez pensar em inúmeros outros:

... Em um determinado momento, presenciei um garoto, também filho se Sr. José, saindo da capela do hospital de uma oura cidade, onde velávamos o seu pai, para sua casa. Era preciso atravessar uma ponte. Ele precisava trocar de roupa. De repente o garoto pega uma bicicleta e segue seu próprio caminho. E foi aqui que me pus a pensar: ele teria de atravessar a ponte que separa as duas cidades, e imaginei-me acima da ponte, como um olho que pudesse ver tudo e todos. E tendo eu assim me imaginado, dispus-me a imaginar inúmeras pessoas atravessando a ponte, muitas de automóveis, outras andando, algumas porventura a cavalo (é permitido andar à cavalo sobre a ponte), algumas não atravessavam a ponte mas o rio, de canoa, outras controlavam a movimentação sobre a ponte, e outras atravessavam de bicicleta como o garoto. Aí X, fiquei pensando o seguinte: eu sabia que uma daquelas pessoas atravessando a ponte de bicicleta (ou o rio! Atravessa-se a ponte ou o rio?) estava vindo de uma cidade A e ia para a cidade B, que estava vivendo o drama da perda física absoluta de seu pai, que ia à sua casa trocar de roupas – quem sabe tomar um banho – etc., mas o que me incomodara naquele instante era imaginar dezenas de outras pessoas atravessando a ponte e/ou rio e não saber quem elas eram, de onde vinham, para onde iam, o que pensavam, já que nem mesmo eu, conhecendo o garoto, jamais poderia imaginar o conteúdo de seu pensamento. Será que por alguma coincidência alguém poderia estar vivendo o mesmo drama do garoto? Será que uma daquelas pessoas poderia estar indo cometer algum homicídio? Suicídio? Fazer alguma declaração de amor? Ou visitar um moribundo? Ou quem sabe alguma mulher estava se dirigindo à maternidade para ter seu filho/a? Será que havia mulheres atravessando a ponte e/ou o rio? Por que havia, por que há pessoas com necessidade de atravessá-los? Por que há necessidade sempre para algo? Por que eu estaria pensando aquilo tudo e não outra coisa? Por que eu tenho/tive a necessidade quase existencial de escrever isso para você, supondo que você dará importância a todas essas coisas que nem mesmo eu sei o porquê dou importância? Por que damos importância? Por que por quês...?

Só sei que a morte do Sr. José suscitou filosofia em mim! A morte filosofou em mim ou eu filosofei sobre ela? Atravessar pontes ou rios é viver, é estar vivo, mesmo que essa vida esteja refletindo sobre a morte, servindo-a, sofrendo-a. No atravessar, o mistério se manifesta, revela-se permanecendo misterioso. Só agora entendo que o mistério se revela permanecendo mistério, e, assim, nem tudo que se revela se desvela por completo.
Guimarães Rosa falou uma vez e para sempre que “o mundo do rio não é o mundo da ponte”. Supondo que os habitantes do rio sejam a própria água, os peixinhos e outros mais, certamente que Guimarães tenha sido razoável. Mas penso que o mundo do rio também é o mundo da ponte porque esta está construída sobre aquele, ou seja, o mundo que se manifesta sobre a ponte não ignora o rio, mas o reconhece de tal maneira que se cria um artifício todo racional para atravessar, agora sim, o rio.
Nessas idas e vindas, de todas as gentes, de todas as pessoas, sejam elas presentes na velha e memorável ponte de Cachoeira, sejam elas nas Avenidas Paulista ou Sete de Setembro, ou mesmo no calçadão em Copacabana... todas elas carregam consigo o mistério de serem algo ou nada serem; o mistério finito de significarem as coisas de tal modo que não suportam o desfazer desses significados. E que essas gentes e pessoas também somos nós em nossas idas e vindas, no nosso parar e no nosso dormir... Em tudo somos essa incógnita. Faça meu querido X, ou repita a experiência de sentar num bar, em algum lugar bastante movimentado, onde se possa ver pessoas, carros, animais e objetos quaisquer, e depois de beber o primeiro copo de uma saborosa e gelada cerveja, contemple, c-o-n-t-e-m-p-l-e todas essas coisas, perguntando-se o que elas podem ser, podem fazer, podem sentir... E o que mais puder perguntar-se.
Não posso supor as hermenêuticas que você será capaz de fazer, mas suponho que você terá surpresas. Aviso-lhe, de antemão, que elas podem ser desagradáveis. Perguntar-se sobre essas coisas exige um espírito forte, mais forte que o meu. Um espírito capaz de suportar a dureza da existência, de sua nudeza, de sua força, de seu vir-a-ser-qualquer-coisa, de sua real e absoluta despreocupação por definições, estabilidades, seguranças etc. Advirto-te do perigo de pôr-se a vê! Mas também advirto da necessidade de realizar essa tarefa humana, demasiada humana.
E é nesse olhar todo humano que teremos a capacidade de mensurar, mesmo pseudonimamente, o valor da existência. Digo pseudonimamente porque a existência é trágica mesmo, sem sentido e sem valor. Hoje, mais uma vez, reconfirmei esse caráter casual, factível da existência. Às 16h deste dia, observando os passos da esposa do então faleicdo Sr. José, mãe do meu amigo e de seu irmão, em direção ao cemitério, fiquei imaginando o que ela estaria fazendo às 16h do dia anterior: será que imaginara que no dia seguinte, naquele mesmo horário, estaria, dolorosamente, levando seu esposo ao sepulcro? Imaginara que no dia seguinte assumiria o estigma de viúva? É dessa facticidade que reclamo, que sofro, que me dói, mas que digo sim, que reconheço, que aplaudo e que afirmo a ti e a todos. Reconheço a existência assim: impensável, por isso, dolorosa.
Não dói morrer, não dói sepultar... dói permanecer vivo, sentir mais uma falta se constituindo dentro de nós; dói saber que não se pode evitar essa constituição; dói saber não ter força para suportar cada falta, cada ausência, cada... dor. Sartre uma vez falou que “não importa o que fizeram de nós, mas o que faremos do que fizeram de nós”. É! Não sei se isso tudo é forjado pela cultura, só sei que estou assim: sentindo-me abandonado e acolhido, sozinho e acompanhado, frágil e forte, uma unidade e uma contradição, qualquer coisa; sentindo-me sem saber o que fazer do que fizeram de mim.
Essa indefinição existencial me dilacera mas me inspira...
Diante de tudo isso, pensei em você... você esse outro tão incompreensível e incompreendido como eu. Nisto somos semelhantes, nisto nos distanciamos. Nisto somos um mistério (des)conhecido.
Sinto, neste momento, tua ausência no desejo de abraçar-te!
26 de setembro de 2008.
Josemar

domingo, 15 de junho de 2008

Fragmentos de mim




Eu queria mesmo não ter a definição do que sou. E acho que não tenho essa definição. Talvez, certamente, haja incômodos em mim por não possuir palavras exatas que revelem o que sou. Mas acho interessante a minha intensa despreocupação em encontrar tais palavras para essa definição. Até hoje não encontrei razões suficientes que me convençam da necessidade de me definir. Aliás, a pergunta que faço é: para que ou para quem mesmo serve uma definição? Penso que esta pergunta poderá gerar inúmeras respostas, e é justamente nisso que me deparei com uma palavra que poderá, por um instante, acalentar corações e mentes ansiosos por uma exatidão: possibilidade!


É, acho que a possibilidade é a palavra que mais se aproxima de mim; aliás, eu desejo muito que ela se aproxime de mim, caso eu esteja enganado dessa real proximidade. Eu queria ser visto e entendido como possibilidade. Eu queria ver e entender a todos como possibilidades. Eu queria que fosse possível a possibilidade como minha única e necessária condição de possibilidade ontológica. Eu queria que meu nome fosse possibilidade. Eu queria mesmo ser a possibilidade.


Com isso, experimentaria o gosto indegustável da liberdade. Eu, como possibilidade, nunca mais sentiria o amargor do ressentimento ou rancor, pois entenderia que todos, sendo possibilidades, seriam livres para ser e agir conforme a liberdade de suas possibilidades. Eu, como possibilidade, não me apegaria a nada nem a ninguém porque, como possibilidade, a liberdade impor-se-ia sobre tudo, e o desejo, insano e livre, seria a força da qual emergiria todas e quaisquer possibilidades em mim.



Josemar, um Pseudônimo ou uma Possibilidade!

sexta-feira, 28 de março de 2008

(IN)DIFERENÇA

"O sol nasce para todos!" Presente em tantas vozes, essa expressão faz de todos nós desprovidos de culpas pelas variadas desigualdades humanas, sejam elas representadas pelas dimensões social, política ou étnica. E se o sol brilha para todos, ele, como representante do Bem platônico, não faz distinção entre os homens, pois entende que todos são iguais, portanto, julga ser bom e necessário brilhar para todos. Mas como bom contemporâneo, percebo que o sol platônico não passa de uma metáfora, demasiadamente, fictícia, portanto, demasiadamente irreal, ou, ironizando, surreal! Não usando de antropomorfismos, penso que o sol é APENAS E TÃO SOMENTE uma estrela de, chamamos, quinta grandeza, assim, ele brilha intensamente, e sua função é estritamente esta: de brilhar e aquecer! O sol é desprovido ABSOLUTAMENTE de consciência e de qualquer possibilidade de agir a partir desta... Desse modo, apesar de nosso desejo de fazer da tão sonhada democracia um instrumento para possibilitar e garantir a igualdade de direitos entre os gêneros, as raças e as classes, o sol continuará brilhando para todos, PORÉM, o seu brilho e seu calor serão sentidos de formas diferentes, e cada um de nós, em seu tempo e em seu espaço, terá as reais e angustiantes percepção e consciência de que somos, essencialmente, condenados a sermos “diferenças”!
18 de março de 2008, 19:30hs
Josemar Silva

quarta-feira, 26 de março de 2008

SoCOrrO

"Socorro! Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...
Socorro! Alguma alma Mesmo que penada
Me empreste suas penas


Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...

Socorro! Alguém me dê um coração
Que esse já não bate Nem apanha
Por favor! Uma emoção pequena Qualquer coisa!
Qualquer coisa Que se sinta...
Tem tantos sentimentos Deve ter algum que sirva...
Socorro! Alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento
Acostamento, encruzilhada



Socorro! Eu já não sinto nada...
Socorro! Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Nem vontade de chorar Nem de rir...
Socorro! Alguma alma Mesmo que penada Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor Já não sinto nada...
Socorro! Alguém me dê um coração Que esse já não bate Nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena Qualquer coisa!
Qualquer coisa Que se sinta...
Tem tantos sentimentos Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa Que se sinta
Tem tantos sentimentos Deve ter algum que sirva..."



ArNalDO AnTUneS

terça-feira, 25 de março de 2008

O papel do Valor e o valor do Papel

Todos nós acreditamos no valor. Uns acreditam que o valor tem sua historicidade, outros, porém, acreditam no valor como uma essencialidade necessária. Mas tanto uns quanto outros acreditam na existência e eficácia do valor para a ordem e coesão social. Trata-se de valor moral e material, um e outro estão intrínsecos entre si. Todos nós, assim, vemos claramente o papel que o valor exerce na vida individual e social.
É certo que cada indivíduo e grupo social acreditam em certos valores, ora dando ênfase em valores estritamente morais ora privilegiando o valor em termos materiais. Em cada ação individual ou social é visível a presença do valor, seja nas conversas coloquiais ou em grandes discursos. A todo o momento estamos julgando as coisas ou situações, e é claro que tudo isso, indireta ou diretamente, é direcionado por nossas tábuas de valores.
Vejamos quando nos encontramos na conversa com amigos ou outros. Dizemos o que julgamos certo ou errado, belo ou feio, verdadeiro ou mentiroso, dizemos ainda o que achamos caro ou baratos, e às vezes ditamos o preço do carro, da roupa, da comida, etc., até chegarmos ao momento onde uma certa tautologia é verificada quando empregamos o preço do próprio capital ao dizermos a cotação da moeda tal e tal.
O valor, portanto, está em todas as partes e como que definindo todas elas. Conseqüentemente, verifica-se que o valor tem sido nosso grande norte, e que com sua falta tudo se perde, nada parece ter sentido, tudo se apresenta descontrolado e os sentimentos de desespero ou angústia se fazem presentes em todos os indivíduos. O valor se tornou tão essencial que mesmo seus críticos não viveram ou não vivem sem um momento de valoração, de julgamento, pois mesmo suas críticas partem de outros critérios que, no final das contas, são também valores. O papel do valor é, sem dúvidas, oferecer, doar sentido à existência, seja esta a minha ou a nossa.
Parece-nos, então, que é longa e antiga a história do valor. Pois ele nasce, ao nosso ver, com o nascer da unidade entre dois indivíduos, quando, enfim, nasce o grupo social. E desde quando existe grupo social? Ao que nos parece isso é tão antigo que nem sabemos, não há data exata nem suposta, o que temos é uma outra história: a da vida social. Descortinar a história da vida social é labor infinito, onde nem sabemos por onde começar, no indivíduo ou no grupo.
Ao longo dessas histórias é possível verificar o quanto o valor diversificou sua forma de ser eficaz, mas também se verificou sua resistência quanto ao seu objetivo. Doar sentido à existência sempre foi seu efetivar-se, e suas formas foram e são as condições de possibilidade mais enraizadas e constitutivas de identidade que houve e que há. Assim, do papel do Valor é possível falar do valor do Papel.
Do mesmo modo, e mais concretamente, temos o papel. Não queremos aqui falar do papel enquanto função ou modo de exercício de algo ou de alguém – no caso aqui o valor. Queremos mesmo é falar do papel feito ou constituído da celulose. Sim, disto mesmo, da celulose, desta substância das células vegetais de onde é possível fabricar nosso tão necessário papel: papel de escrever, papel de jornal, papel para embrulhar, papel que é dinheiro, cédula.
É! Se falamos acima que em tudo o valor exerce seu feitiço, no papel ele também o faz. O papel de celulose tem seu valor. é claro que cada um expressa um valor, depende de suas funções. Devido à escrita, certos papéis têm seu valor; devido ao jornal, temos novos valores; dependendo do embrulho há um outro valor; porém se se trata de dinheiro, ah!, aí sim, o valor é mais expressivo. Mesmo que este papel de dinheiro seja sujo, feio, rasgado, riscado, mesmo assim seu valor não muda, ele, o valor, é tão fixo nesse caso que ele é capaz de transcender todos os aspectos reais do dinheiro feito de papel sujo, feio, rasgado e riscado.
Esse dinheiro feito de papel (...) compra o papel branco e limpo para a escrita, compra o jornal e compra o papel para embrulho. A virtualidade do valor é tão real que fez do papel nosso guia. Qualquer papel encontrado, comprado, doado, recebido ou mesmo fabricado que tenha simples figuras de animais, de números, de pessoas, letras, com a frase “Deus seja louvado”, podemos ter a certeza que esse papel é de maior valia. É ele, hoje, a grande e eficaz expressão do valor, do que vale e do que é válido.
Para que alguém seja gerado, seja alimentado, nasça, cresça e apareça o papel-dinheiro é indispensável. Nossa vida, toda ela, é marcada pela presença do papel-dinheiro. É mais fácil ser ausente de nossas vidas os nossos genitores, parentes outros, amigos, escola, Deus ou quaisquer outras coisas que se julguem necessárias, porém o papel-dinheiro não, ele é, para nós homens e mulheres modernos, nosso grande sentido, nosso grande objetivo, nosso grande valor.
Como nosso grande valor? Mas quem veio primeiro o valor ou o papel-dinheiro? Quem exerce poder sobre quem? Parece que tanto faz! O que sabemos é que hoje nosso valor é mesmo este, o papel-dinheiro. E vigora ainda o velho jargão popular que diz que “vale-se pelo que se tem e não pelo que se é”, principalmente num tempo onde esse “é” se faz tão flexível e tão móvel que “ser” não faz mais sentido. E assim, o valor impresso no papel fez do papel nosso grande valor!
Viva a capital moral capital!!
10‎ de ‎novembro‎ de ‎2005, ‏‎19:05:25
Josemar Silva

segunda-feira, 24 de março de 2008

Gota Transbordante



Compartilhado com o amigo GeorgeLiberdade: ou a tenho ou sou medroso; ou sou livre ou deveria ser livre. Constatei que por muitas circunstâncias não sou livre. Seja porque falo por minha não-linguagem, seja pelas minhas tantas experiências, seja pelos tantos afetos que adquiri, tenho ou adquiro, ou seja, pela minha própria condição existencial: de fragilidade, de contingência, do não-saber, enfim, da minha finitude a das minhas impossibilidades. Não sou um ser ex-plicado. Todas as im-plicações que circunstancialisam minha vida me tornam cada vez mais não-livre. E cada experiência nova que faço revela-me, por não saber de suas emergências, como ser implicante e implicador, e, por isso, um ser desejoso de liberdade. Não sei ao certo se essa liberdade que desejo já existiu, se ela faz parte de meu destino ou se simplesmente a desejo como a contradição da minha existência. Nem sei se há uma possibilidade de liberdade. Nem sei mesmo no que quero ser livre, e nem sei se esse desejo de ser livre não se confunde com a vontade de fazer alguma coisa proibida. Não sei ao certo se liberdade é fazer o que quero, ou se liberdade é ser o quero fazer. Ser o fazer é grandioso na existência de quem vive de fato. Ser o que se faz é ao mesmo tempo fazer-se. Não quero dizer que sou um ser em construção na medida que faço-me, pois não tenho pretensão de ser um acabado, porém, revelo-me como ser que, na sua contingência, sabe-se inacabado e sempre ativo, portanto, efetivando-se atualmente. Assim, acho que ser livre é, sobretudo, um realizar-se como ser em plena efetivação, sempre diferente, por isso sempre atual. Mas a vida social, ou seja, o “mal-estar”, exige de mim uma atitude, assim como viver e ser livre são atitudes. Mas para cada atitude consciente faz-se necessário aquilo que Sócrates chamara de virtude: a coragem. No “mal-estar” é sempre necessário se ter coragem. Ela é a única possibilidade para o desconforto de escolher viver no bem-estar. Mas entre o desconforto do “mal-estar” para o desconforto do bem-estar parece melhor este. Ele é meu, aliás, ele sou eu, pois no desconforto de não saber quem sou sinto-me feliz por não mais viver quem não sou. No “mal-estar” eu não sou, e se no bem-estar também não sou, mas sei que neste não sou. E a questão não é do saber ou do não-saber, mas é que no saber tenho a plena possibilidade de ser o fazer-se. Preciso de uma gota de coragem! Preciso de uma gota de coragem para que eu possa transbordar, como um mar, de liberdade. Só me falta uma gota de liberdade para fazer-me nascentes e rios, mares e oceanos, fazendo-me mistério para mim mesmo; não quero ser sagrado, quero ser mistério. Quero que a esquina de meu olhar sempre se afirme nessa impossibilidade de me vê todo. Que meu todo não exista, pois seria muito infeliz se um dia eu me encontrasse acabado, pronto para qualquer dissecamento, saciado em todo efetivar-me. Que a infinitude da minha efetividade, da minha atividade, de minha liberdade seja sempre a realidade mutante da minha existência. Que caia a gota que me falta!
‎8‎ de ‎agosto‎ de ‎2003, ‏‎09:34:43
Josemar Silva

Ao Desejo



“Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo.
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece,
Onde tudo nos mente e nos separa.”(
Sophia de Mello Breyner)


A paixão assola meu ser e atormenta minha alma
Alimenta, incansavelmente, um desejo intenso, violento
Dono de si, impiedoso, cruel e insistente.

Desejo não mais desejado por mim,
Mas em mim se faz a si mesmo,
Sem licença, sem compaixão de mim,
Como se eu fosse um mendigo,
Um andarilho sem origem ou destino.
Faz de mim um marinheiro sem cais, sem barco, sem nada.

Desejo que persiste em viver da contemplação, do olhar,
Da indiferença, da alienação.
Faz de mim um escravo sem forças, sem pulso.
Arrasado na força do desejo não mais meu,
Um desejo alheio aos meus mais novos desejos.

Oh desejo impiedoso,
Levanta-te de mim e prossegue teu destino só.
Dar meu lugar a mim,
Deixa-me ser.
Permita-me tocar outras areias,
Deixa-me à cegueira do tato,
Esquece-me como vigilante,
Deixa-me tocar, sentir e viver...

Esquece-me como aquele que só contempla
A arte que não me pertence.
Deixa-me, mesmo que seja para o nada,
Pois antes querer o nada
Do que viver da contemplação estéril
Que a mim – corpo e alma – atormenta e feri.

Oh desejo insano, deixa-me ir ao casulo,
Tentando ser outro,
Pois a insatisfação em ser você
Faz-me perder o domínio das velas
Que orientam meu velho e cansado barco.
Não quero mais ver tua arte, desejo ingrato.
Quero esconder-me de ti na não-contemplação do teu alimento.
Cego-me para não sofrer de ti.
Cego-me para não te ter nas migalhas de tuas concessões.

Abandono-me na cegueira, fujo da luz que revela tua arte,
Corro da beleza que me atormenta,
Que me faz prisioneiro da insatisfação repetida,
Insistente, presentificada numa maldade,
Numa beleza, numa encantadora e livre
Feitiçaria do desejo.

Oh desejo!
Deixa-me retornar a mim!
Deixa-me voltar à ignorância!
Deixa-me retornar ao tempo
Em que eu não sabia,
Em que eu não via!
Deixa-me ir ao momento
Onde tudo ainda não era.
‎8‎ de ‎agosto‎ de ‎2007, ‏‎09:34:40
Josemar Silva

Caras Intenções




"Cuidado com o santo que o andor é de barro!” Essa foi uma expressão que me fez lembrar Edmund Husserl (1859-1937), um dos filósofos mais importantes do século XIX. Ele é responsável pelo que hoje conhecemos como "Fenomenologia"' – corrente filosófica que reflete a velha celeuma da relação sujeito versus objeto! Uma de suas teses mais importantes, e que nos interessa, é a da “intencionalidade da consciência”. Para ele, a consciência é sempre “consciência de”, portanto, há sempre uma “intenção”. Suas contribuições ultrapassaram as muralhas acadêmicas e atingiram os sábios cérebros medievais da hierarquia eclesiástica. Nesse sentido, não só a filosofia ganhou novos argumentos, mas também a velha teologia mercantilista sobrevivente do último empreendimento conciliar. Esta velha carola ratifica a tese de que Fides et Ratio estão sempre juntas como as asas da águia, ganhando mais vôo à medida que surgem mais argumentos "filo-teológicos". Não quero com isso dizer que Husserl seja um teólogo, nem que os teólogos são filósofos, essa discussão deixo para os interessados no assunto. O que venho ressaltar é sobre a astúcia da Mater Ecclesiae: primeira instituição a praticar a globalização, não deixa de exibir suas afinidades com o capitalismo, como já evidenciava Max Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo – e é claro que a diferença entre católicos e protestantes está na disputa se o santo é de barro ou se o barro é santo!
Sim, e aí? O que tem a ver Husserl, a Igreja e Weber? Ah, lembrei! É que ontem fui à missa, fazia um mês que minha prima faleceu. A missa é uma oração, e se se ora, se ora por alguma causa, portanto, há uma “intenção” na oração, ou seja, na missa. Pois bem, mas alguém preside essa oração, essa missa, e sua presidência administra as “intenções” pelas quais se ora! Velha novidade: e a taxa de administração das santas “intenções”? Aí, redescobrir que para cada “intenção” se cobra uma taxa de mais ou menos dez reais. Bem, mas se você quiser que a missa seja só para sua “intenção”, aí é mais caro, custa, em média, setenta reais. Pelo que percebi, o que importa é a quantidade de “intenções” ou sua exclusividade, não sei nada sobre o critério de qualidade, ou seja, se há diferença no custo entre a boa e a má “intenção”, o que sei que importa é se é 1, 2, 3 ou única intenção; também não sei se os dizimistas têm algum desconto de 10%, se podem parcelar no cartão de crédito ou no cheque especial, mas certamente eles têm intenções!
Quando o homem descobriu que o avião serviria para guerra, Santos-Dumont ficara decepcionado. Será que Husserl ficaria decepcionado se soubesse que as “intenções” viraram mercadoria? Bem, isso não me interessa muito! Agora, se Lula, na falta da CPMF, descobrir que intenções valem de dez a setenta reais, ah, isso me interessa, porque de boas intenções o inferno está cheio!

‎1‎ de ‎fevereiro‎ de ‎2008, ‏‎22:06:21
Josemar, com más intenções!