quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Feliz aniversário

Na vida, há muitas coisas que julgamos ou aprendemos a julgar importantes, e elas acabam sendo não pelo fato de serem por si mesmas, mas porque não podemos mais nos desvencilhar da crença de que são. Aliás, a própria vida é circunscrita neste preconceito de que ela própria é a coisa mais importante. No entanto, é bom saber que aqui importante não é sinônimo de “coisa boa”, mas daquilo que nossas crenças tornam relevantes dentro da dinâmica de nossa existência.
Em se tratando da vida, ou se tratando das coisas na vida, criou-se um costume de celebrar, festejar, reunir em alegria aqueles e aquelas com os quais e com as quais compartilhamos tudo ou boa parte desse tudo. E celebramos a vida ou as coisas que dela fazem parte. Mas a festa também pode significar uma estratégia de fuga, de mascaramento, fantasia sobre algo que nos aterroriza, assusta, amedronta, e este algo é mesmo a própria vida.
É que para mim – e não apenas para mim –, a pior coisa que pode acontecer, manifestar-se é o nascimento de alguém, de mim mesmo, enfim, de algo que venha a existir. Existir constitui-se de uma dor profundamente pungente. Sair do nada e entrar na dinâmica da existência é uma coisa profundamente indesejável por nós humanos, mas ainda assim, somos convocados a existir por acaso ou por vontade daqueles que, não querendo sofrer sozinhos, chamam a nós, fantasiando-nos como suas réplicas para alimentar a ilusão de suas perpetualidades.
Nascendo, imediatamente entramos no movimento fantasmagórico: criamos estilos de vida ou de sobrevivência, formas de morar, de higienes, de relações, de locomoção, modos de interpretar o mundo, as coisas, forjamos a idéia mesmo de interpretar, de conhecer e de verdade. Inventamos a escrita e o entendimento. Criamos a idéia de cultura. Tudo, tudo o que existe e que faz parte de nossa dinâmica existencial não passa de nossa necessidade de ultrapassar, sobrepor à consciência de que existimos e, portanto, sofremos. Agora entendo o porquê da frase nietzschiana que sempre me chamou a atenção e sempre esteve presente em meu pensamento: “a força curadora está no próprio ferimento”. É que parece que mergulhando na vida (ferida) encontramos seu sentido profundo: o sofrimento. E é assumindo este sentido que assumimos a vida mesma.
E se as invenções, as festas e celebrações são para esquecer o sentido de nossa existência, isso não significa que de fato esquecemo-lo. Pois a existência carrega consigo a tarefa de fazer-nos sempre vigilantes à existência, consciente de que existimos. E na obrigação de lembrar em determinada data a nossa existência e sua epifania, seu nascimento, sua explicação ao mundo, logo encontramos um modo todo ilusório, todo enfeitiçado para não mergulharmos em seu sentido. A festa, portanto, é nosso constructo necessário para suportar o fardo que é existir. Desejar um feliz aniversário é oferecer os votos para que o indivíduo verse com boas fantasias este seu próximo ano, ou, então, celebrar a vitória das fantasias do ano que passou. Bem, uma coisa não aniquila a outra: a festa é tanto pelo ano que passa como para o ano que se promete.
Diante do ano que virá, a promessa é a arma. A promessa enche o homem de esperança, de fantasias, de ficções. Prometer é estabelecer uma esperança. Esperança de...
Feliz aniversário...

Josemar, uma pseudônima promessa, 22/02/09 - 10:21h

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