e as minhas
raízes eu balanço, eu balanço
Eu balanço Todo
santo dia, pois todo dia é santo
E eu,
sou uma
árvore bonita
Que precisa
ter os seus cuidados
Árvore - Edson Gomes
Eu amo cachorros. Mas algo me diz que se eu não fosse
humano, com certeza, árvore eu seria. Por que? Pergunto-me, perguntam-me! Não sei.
Apenas aquela sensação de certeza de que assim seria. Talvez a minha condição psicológica
de que devo permanecer. Permanecer no que? Na permanência de permanecer sempre.
E árvore sempre permanece. Nós animais costumamos transitar. Mas há, em mim, uma
vontade de permanecer. E o engraçado que não amo árvores, mas animais, precisamente
o cachorro. Tudo que precisamos é amor e
cachorro, grita um quadro aqui na parede. Mas, na minha última viagem pela Costa
do Cacau, na Bahia, há poucos dias, vi tantas árvores lindas que, de novo,
emergiu em mim o pensamento de que árvore eu seria se. E acho que ao pensar
nelas, falar delas, gostaria de me expressar como se elas eu fosse. As árvores,
como todos os demais seres, são sozinhas em si. Uma árvore é sempre uma árvore
por mais que a ela se agregue tantos outros seres, ela é um indivíduo no
sentido pleno da palavra. Nós, humanos, somos como as árvores mas ao contrário:
nossas raízes estão no alto, distante do chão. Certamente que se nossas raízes fossem
no chão não seríamos humanos mas árvores. Elas são imponentes, porém vulneráveis.
Estáticas, não podem fugir das ameaças. Abrigam muitos outros seres. Paradoxalmente,
amam tanto o sol e o buscam o quanto podem que, com isso, geram sombra para
aqueles que fogem do sol. Frutíferas, floridas, esguias, frondosas,
desfolhadas, altas, fortes... todas elas perto de muita água ficam plenas. Aliás,
perto de muita tudo é feliz, já dizia
o poeta. Os pássaros amam as árvores, amam tanto que delas fazem suas moradas,
dormem nelas, delas se alimentam, fazem amor nelas, seus ninhos, fazem das árvores
seu mirante, de lá enxergam tudo: o que seria dos pássaros se não fossem as árvores.
Há uma interdependência entre eles. Para agradecer às árvores, os pássaros e
outros animais espalham suas sementes. Os não pássaros agradecem pela sombra e também
pelos frutos. E cada um é um ajudando o outro porque sabem que sem o outro não podem
ser. E ser é o que importa. É sendo ser que se é. E os ventos e as árvores? Parece
um carnaval. Eu nunca fui no carnaval, mas eu acho que é isso. Quando a gente
olha para uma árvore a sensação é de que ela é mais. Ainda mais quando é uma árvore
de Terreiro. Solitárias chamam a atenção por sua solidão em um descampado. Quando
juntas, tornam-se floresta e ficam misteriosas. Tornam-se um mar de verdes. São
muitos os tons e sons, as árvores, como florestas, reúnem cores e barulhos. Mistério
e medo são daqueles que não habitam a floresta. À noite, quando chega a escuridão,
elas se impõem e são mais escuridão que a noite, e os tons da escuridão revelam
a floresta como contorno da paisagem. E outros sons emergem na noite da
floresta. E a árvore parece que não descansa, pois todos os seres e ventos da
noite também interagem, necessitam das árvores. E quando amanhece, as árvores estão
lá, como sempre, elas são o tempo todo o que devem ser. Afinal, não há tempo
para descansar de ser. Sempre sendo o que se é até que se deixe de ser. E como
tudo o que existe, elas também deixam de ser, como nós, como tudo, e isto é um grande
infelizmente.
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